Com mais de três meses de diagnósticos de Covid- 19 em Portugal ainda se sentem os seus efeitos no nosso dia-a-dia, com repercussões diferentes em cada um de nós. Desde mudanças a nível financeiro, social ou laboral, parece que fomos sentindo o impacto deste vírus nas nossas vidas, mesmo antes deste chegar a Portugal. É sobre as múltiplas ondas de sentimentos que cada um de nós vai passando que escrevo este artigo, na esperança de levar um pouco mais de compreensão e menos solidão a cada um de vós.

Todos os momentos difíceis da nossa vida podem ser encarados com vários olhares, não é surpreendente que à nossa volta consigamos obser-

var tantas perspetivas e sentimentos diferentes sobre um contexto que é igual a nível nacional, mas por sermos humanos temos a capacidade de compreender e sentir o mesmo acontecimento de formas muito diversas. Desde ansiedade, medo, tristeza, zanga ou até tranquilidade, sensação de valorização profissional e redefinição de objetivos de vida. Cada um de nós tem a capacidade de lidar com uma situação difícil com um olhar negativo ou positivo, podemos até sentir um paradoxo de emoções muito diferentes ao mesmo tempo.

Esta pandemia permitiu-nos estabelecer uma maior sintonia com o nosso corpo, escutando-o de forma muito mais próxima. Quer seja uma tosse,

uma dor de cabeça ou um arrepio de frio, tudo o que sentimos fisicamente, nós escutamos e interpretamos. Mas, e as mensagens emocionais que o corpo nos tentou transmitir? Será que compreendeu a sensação de peso no estômago como uma manifestação de ansiedade, ou uma tensão no pescoço e ombros como sendo stress acumulado, ou colocou esses sentimentos de lado, desvalorizando- os, na esperança de que se não os sentisse eles iriam desaparecer?

O nosso corpo tem formas de comunicar e com esta pandemia ele poderá ter falado mais intensamente do que o habitual. Conseguir escutar o que lhe diz é uma das formas mais eficazes de lidar com estes sentimentos difíceis. Se colocar esses sentimentos de lado e “esperar que passe” eles só se tornarão mais intensos pois crescerão dentro de si. Dar espaço aos seus sentimentos é uma forma de desenvolver a sua saúde mental e tal como procuramos ativamente saúde física só nos iremos sentir realmente tranquilos se cuidarmos de todas estas partes do nosso ser.

Portanto, como poderá nesta fase desenvolver a sua saúde mental? Pode começar por analisar que mudanças trouxe esta pandemia à sua vida e concluir quais é que lhe faz sentido manter: o que é que priorizou nesta fase? O que sente que é realmente importante para lhe dar sentido de vida? Será passar mais tempo com a família? Socializar mais? Ter mais tempo sozinho? Será investir mais na vida profissional, ou para si a satisfação é encontrada separando de forma clara a sua vida profissional da pessoal?

Infelizmente não existe uma resposta simples, somos seres complexos e o que é essencial para si não tem que ser para outra pessoa,

mas este poderá ser um tempo para realmente se escutar e compreender o que é prioritário para o seu projeto de vida e as escolhas necessárias para o alcançar. Por fim, no que poderá um psicólogo ajudar?

Pode sentir que os sentimentos que tem estado a viver são demasiado intensos e não consegue lidar com eles, a escuta ativa, compreensiva e empática de um psicólogo poderá ajudá-lo a compreender-se melhor, apaziguando o seu sofrimento e também a ajudar a criar estratégias para conseguir lidar com tudo o que está a passar. Os motivos para procurar este tipo de ajuda podem ser os mais variados, desde processos de luto, doenças crónicas/incuráveis, ansiedade, depressão, falta de sentido da vida ou até mesmo para o seu próprio desenvolvimento pessoal.

Tal como poderá ir ao ginásio cuidar do corpo por diversos motivos (emagrecer, manter o peso, ganhar musculo, reabilitação, etc) também pode ir ao psicólogo com vários objetivos, o profissional que escolhe irá ajudá-lo a estabelecer objetivos concretos de forma a conseguir, realisticamente, alcançá-los.